A incerteza gerada pelo anúncio do tarifaço de 50% já se reflete em setores, como o da carne bovina no Brasil. Mesmo em Estados com menor participação no mercado americano, como o Rio Grande do Sul: em duas semanas, o preço do boi gordo caiu 5,4%.
É o que apontam dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para o consumidor, no entanto, ainda não aparecem diferenças.
Em pleno período de entressafra no território gaúcho, quando as cotações deveriam estar em alta, o cenário mapeado foi o oposto. O valor médio do quilo do gado gordo divulgado nesta quarta-feira (23) é de R$ 10,40. Há duas semanas, era de R$ 11.
— É exclusivamente efeito do anúncio do tarifaço. O (preço) do boi tinha que estar subindo e está baixando — pontua Juúlio Barcellos, coordenador do Nespro/UFRGS.
Como o núcleo também coleta dados no varejo, o coordenador afirma que essa diferença ainda não chegou na ponta. Se estima que nos próximos dias a redução de preço também seja sentida pelo consumidor, avalia Barcellos:
— A carne que está entrando no varejo ainda nesta semana é de um boi que foi comprado antes do anúncio do tarifaço.
Com uma fatia importante de participação nas vendas para os EUA, outras regiões do Brasil, como a Sudeste e a Central, tiveram um recuo maior e mais rápido na arroba (equivalente a 15 quilos) do boi gordo. Chegou a 8%, mas demonstra uma desaceleração.
— O grande problema são as incógnitas, os questionamentos. Vira especulação, traz uma inconsistência para o mercado — aponta Ladislau Boes, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes do Estado (Sicadergs).
Mesmo com um percentual considerado pequeno sendo exportado pelo RS para os EUA (são duas plantas habilitadas), os gaúchos sentem a reação em cadeia da pecuária brasileira. O centro do país é um balizador de preços. E um efeito lá pode ter proporções diferentes, mas invariavelmente chega também aqui.
O abate de produto destinado ao mercado americano já está sendo paralisado diante da indefinição atual. Há ainda produtos que estão em contêiner, a caminho dos EUA, com chegada prevista para depois do dia 1º.
Outro ponto levantado pelo presidente do Sicadergs e que amplia a preocupação é do próprio mercado doméstico. O consumo interno está "devagar".
— São fatores que, somados, fazem com que a oferta seja grande já agora — completa Boes.
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◾️Fonte: Gisele Loeblein / GZH
⌨️ Editado por Dario Carvalho / Rádio Charrua
📸 Imagem: Rádio Charrua / Ilustração (imagem canva)